Tema delicado, mas essencial para nossa reflexão: a Anti-Maçonaria, suas origens e os impactos que teve na Maçonaria ao longo dos séculos. A Anti-Maçonaria, marcada por críticas, desconfianças e ataques à Ordem, não é um fenômeno novo, mas suas raízes e efeitos continuam a desafiar nossa missão de promover ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
As Origens da Anti-Maçonaria
A Anti-Maçonaria surgiu no século XVIII, logo após a fundação da Maçonaria especulativa em 1717, na Inglaterra. A Ordem, com seus ideais atraiu a desconfiança de instituições poderosas, como a Igreja Católica e regimes autoritários, que viam na Maçonaria uma ameaça ao seu controle social, econômico e religioso.
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Igreja Católica: Em 28 de abril de 1738, o Papa Clemente XII emitiu a bula In Eminenti Apostolatus, proibindo os católicos de se associarem à Maçonaria sob pena de excomunhão. A Igreja acusava a Ordem de promover o secularismo, o relativismo religioso e conspirações contra a fé. Essa postura foi reforçada por bulas posteriores, como a Providas Romanorum de 1751, e persistiu até o século XX, embora o Concílio Vaticano II (1962-1965) tenha suavizado o tom, reduzindo a excomunhão ao status de pecado grave.
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Regimes Políticos: No século XVIII, monarquias absolutistas, como a da França pré-revolucionária, temiam que as lojas maçônicas fossem centros de ideias revolucionárias. Após a Revolução Francesa (1789), a Maçonaria foi falsamente acusada de orquestrar o movimento, alimentando teorias conspiratórias. No século XX, regimes totalitários, como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália, baniram a Maçonaria, confiscaram propriedades de lojas e perseguiram maçons, associando a Ordem a supostos complôs judaicos ou comunistas.
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Teorias Conspiratórias: Livros como Proofs of a Conspiracy (1797), de John Robison, e os falsos Protocolos dos Sábios de Sião (início do século XX) amplificaram mitos sobre a Maçonaria, acusando-a de controlar governos e economias. Esses textos, embora desmentidos, alimentaram a imaginação popular e deram força à Anti-Maçonaria.
Efeitos na Maçonaria nos Séculos Passados
A Anti-Maçonaria teve consequências profundas para a Ordem em diferentes épocas:
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Perseguições e Proibições: No século XVIII, maçons foram presos em países como Portugal e Espanha sob a influência da Inquisição. No século XIX, nos Estados Unidos, o “Incidente Morgan” de 1826, no qual William Morgan desapareceu após ameaçar revelar segredos maçônicos, desencadeou uma onda de hostilidade que quase destruiu a Maçonaria no país, com a criação do Partido Anti-Maçônico.
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Repressão em Regimes Totalitários: Durante o regime nazista (1933-1945), cerca de 80.000 maçons foram perseguidos, e muitos foram enviados a campos de concentração. Na Espanha de Franco e na Itália de Mussolini, lojas foram fechadas, e maçons enfrentaram prisão ou exílio. A flor de miosótis foi adotada como símbolo maçônico não oficial, por causa das perseguições e mortes de maçons sofridas durante esse período.
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Estigma Social: A Anti-Maçonaria criou uma aura de desconfiança, retratando a Maçonaria como uma sociedade secreta com intenções obscuras. Isso dificultou o recrutamento de novos membros e forçou muitas lojas a operarem com discrição, temendo a represália social, a condenação de seus membros ao ostracismo social e até mesmo por segurança.
A Anti-Maçonaria Hoje
Embora menos intensa que no passado, a Anti-Maçonaria ainda persiste em formas modernas:
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Desinformação Online: A internet amplificou teorias conspiratórias, com sites e redes sociais acusando a Maçonaria de manipular eventos globais. Vídeos no YouTube e posts em plataformas como X frequentemente reciclam mitos antigos, misturando-os com narrativas contemporâneas.
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Críticas Religiosas: Algumas denominações religiosas, especialmente grupos católicos e protestantes conservadores, continuam a ver a Maçonaria como incompatível com suas doutrinas, alegando sincretismo ou ocultismo.
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Suspeitas Políticas: Em alguns países, como partes da África e da América Latina, a Maçonaria é acusada de elitismo ou influência indevida na política, mesmo sem evidências ou investigações em bases concretas.
Apesar disso, a Anti-Maçonaria hoje é menos organizada do que no passado, carecendo de apoio institucional significativo. No entanto, a desinformação continua a prejudicar a imagem pública da Ordem, afastando potenciais membros e reforçando estereótipos (quem nunca ouviu falar do “bode”?).
A Anti-Maçonaria, com suas raízes no medo e na desinformação, tentou ao longo dos séculos ofuscar a luz da Ordem Maçônica. No entanto, nossa Ordem sobreviveu às perseguições e continua a crescer, guiada pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Hoje, cabe a nós, maçons, combater os equívocos com ações concretas: sendo transparentes, engajados e fiéis aos nossos princípios.
Que possamos, com sabedoria e coragem, mostrar ao mundo o verdadeiro espírito da Maçonaria, construindo pontes onde antes haviam abismos.