O Rito Escocês Antigo e Aceito — ou simplesmente REAA — é, hoje, o rito mais praticado pela Maçonaria brasileira. Mas poucos sabem que sua trajetória é marcada por disputas, exílios, reorganizações e influências que atravessam continentes e séculos.
Das lutas políticas à ritualística maçônica
O embrião do REAA surgiu na França, no início do século XVII, com as chamadas Lojas Jacobitas — compostas por nobres partidários da dinastia Stuart, que havia sido afastada do trono inglês. Nesses círculos nasceu o Rito de Heredom, que apresentava um modelo maçônico distinto daquele dos pedreiros operativos: ali, o maçom era visto como um cavaleiro, e os graus carregavam uma simbologia refinada, voltada à nobreza.
Com o tempo, o Rito de Heredom cruzou o Atlântico e se espalhou pelos Estados Unidos. Em 1763, o francês Stephen Morin levou aos EUA uma patente para disseminar o rito. Porém, a falta de controle e a proliferação de graus criaram um ambiente desorganizado.
Charleston: o ponto de virada
Foi em 1801, na cidade de Charleston (Carolina do Sul), que um grupo de maçons conhecido como os Onze Cavalheiros de Charleston estabeleceu o Supremo Conselho do REAA e definiu os 33 graus que compõem o sistema até hoje. Esse foi o marco da oficialização do rito como o conhecemos — e o início de sua disseminação pelo mundo.
O papel de Albert Pike
Poucos nomes são tão influentes no REAA quanto Albert Pike. Iniciado na Maçonaria em 1850, Pike foi responsável por revisar e sistematizar os rituais. Em 1861, apresentou sozinho uma versão completa e revisada dos rituais do REAA, que acabou servindo de base para os Supremos Conselhos ao redor do globo.
Além disso, Pike escreveu o famoso livro “Moral e Dogma”, uma interpretação pessoal dos princípios filosóficos do REAA — obra reverenciada por muitos e criticada por outros, especialmente fora do meio maçônico.
A chegada ao Brasil
O REAA chegou ao Brasil em 1822, por meio da Loja Escudo de Honra, no Rio de Janeiro. No entanto, foi com Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, em 1832, que o rito ganhou estrutura nacional, com a fundação do Supremo Conselho do Brasil para o Grau 33. A partir daí, houve regulamentação de paramentos, interstícios e regras de conduta.
A cisão e o surgimento das Grandes Lojas
Um ponto marcante na história do REAA no Brasil foi a cisão de 1927, que resultou na separação entre o Supremo Conselho e o Grande Oriente do Brasil (GOB). A decisão de Mario Behring, que recusou acumular cargos nas duas instituições, foi seguida por diversas Lojas que passaram a adotar o modelo das Grandes Lojas Estaduais, alinhadas com os padrões internacionais. Dessa divisão surgiram os dois Supremos Conselhos brasileiros: o de Jacarepaguá alinhado às Grandes Lojas e o de São Cristóvão alinhado ao GOB.
Um rito de profundidade e tradição
Com raízes que passam pela nobreza escocesa, pela filosofia francesa e pela organização norte-americana, o REAA representa muito mais do que um conjunto de cerimônias. Ele é a expressão de um sistema simbólico que atravessa fronteiras e ensina, grau a grau, uma jornada de autoconhecimento e serviço.