Se você já participou de uma sessão maçônica no Brasil, especialmente em graus simbólicos ou sessões ordinárias, provavelmente já viu – ou usou – o tradicional balandrau. Essa túnica preta, de aparência solene, carrega uma aura de mistério e respeito. Mas será que sabemos mesmo de onde ela veio?
O que se diz… e o que a história mostra
Durante muito tempo, circulou a ideia de que o balandrau era um vestuário usado pelos antigos maçons operativos – os pedreiros medievais – ou até pelos membros do antigo Collegia Fabrorum, na Roma Antiga. Essa explicação, embora simbólica e difundida, esbarra em um problema sério: não há registros históricos confiáveis que confirmem isso.
Aliás, é curioso notar que nas tradições maçônicas mais antigas, como as da Inglaterra, Escócia e Alemanha, o balandrau simplesmente não aparece. Se fosse mesmo uma herança direta da Maçonaria operativa, seria de se esperar que ele estivesse presente nesses países – berços das guildas de ofício.
Um elo inesperado: a Carbonaria
A resposta mais plausível para a origem do balandrau na Maçonaria está fora da própria Maçonaria. Trata-se de uma organização que atuou de forma clandestina no século XIX, com forte presença na Itália, França e Portugal: a Carbonaria.
Essa sociedade secreta, voltada a ideais de liberdade e resistência política, utilizava um traje muito semelhante ao balandrau: uma túnica preta, frequentemente adornada com símbolos revolucionários. O uso da vestimenta era parte da identidade visual e simbólica do grupo.
A ponte entre a Carbonaria e a Maçonaria
No meio dessa história está um personagem-chave: Lucien Murat, filho do general francês Joaquim Murat, uma das lideranças da Carbonaria. Lucien, após um período de exílio, retornou à França e foi nomeado Grão-Mestre do Grande Oriente da França em 1852.
Durante os dez anos em que liderou a obediência, Murat promoveu diversas inovações – e uma delas foi a incorporação de elementos carbonários no simbolismo maçônico francês. Entre esses elementos estava… o balandrau.
A influência chega ao Brasil
Naquela época, a Maçonaria brasileira mantinha laços estreitos com o Grande Oriente da França. Muitos dos ritos praticados por aqui – como o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Moderno, além do Adonhiramita – vinham diretamente da França. Foi assim que, aos poucos, o balandrau foi adotado também pelas Lojas brasileiras.
Mesmo quando mudanças políticas na França afastaram o balandrau do cenário francês, por aqui ele já havia se consolidado como parte da tradição.
E o Avental?
Nada disso tira o valor simbólico do balandrau. Mas vale lembrar que, independentemente de túnicas, mantos ou outros adornos, a verdadeira vestimenta do maçom é o Avental. É ele que simboliza o trabalho, o dever e a dignidade de todo Iniciado. O balandrau pode impressionar pelo visual – mas é o Avental que sustenta a essência. Lembrando, que o balandrau é “tolerado” nas sessões ordinárias, mas o traje de rigor maçônico é o terno completo, e é impreterível o uso do avental do grau correspondente do Irmão.